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"Olhava longe, tão longe que eles mesmos não poderiam ver". (página 61)

 

Vitória, a matriarca, até o início da chuva era a base e a cola que unia a família Manarca. Exigente, queria todos os filhos na mesa durante as refeições, exigia suas atenções e cuidados, assim como a uns aos outros. É enfatizado durante a narrativa, numa conversa entre Carmem e Lúcio, que Vitória era "outra pessoa" antes do abandono do marido, Seu Zé Manarca, e que seus dias de rabugice só começaram então. Além disso, a idade avançada associada à quebra da rotina preciosa durante a chuva, de passeios e missas, decompõem a sanidade da velha aos poucos. Durante esse tempo, pouca coisa de valor conseguem absorver das palavras da mãe, que cospe frases soltas e de pouco sentido, conversa com seus fantasmas e amaldiçoa a esmo o marido. Não suficiente, anuncia uma grande praga a caminho de Bazalta, deixando todos em alerta, até perceberem que a dita praga nunca vem. De fato, Vitória é um tanto intuitiva, no mínimo. Tem esse "quê" de sentir os males que se achegam. Mas, principalmente, é convicta em suas crenças. Isso pode ser visto na "Vitória-antes-da-chuva", que acredita na família e na fé. É ela que insiste em contar a história sobre O Homem e a criação do mundo, jurando já te-lo visto, o primeiro ser criado por Deus, circundando Bazalta. Mesmo que tal colóquio a dê o título de louca entre os conterrâneos, ela não oscila em seu credo e na precisão de seus olhos. E mesmo na grosseria de suas palavras e modos há de se entender que Vitória é a personificação de uma alma desgastada pelo tempo e pelas situações. Abalada com a perda do marido, ainda tem de ver durante a chuva a ida de seus filhos, que um a um decidem seus destinos longe dela. Talvez Vitória seja a loucura por opção, tendo em suas alucinações/criações a oportunidade de fuga de uma realidade hostil, que lhe tira os filhos, rouba as forças, e só devolve água.

Vitória Manarca

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