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"Um sofre de falta de amor, outra de amor demais". (página 108)

Carmem é a inquietude consigo mesma, com o futuro que imite o passado, com a vida ser um ciclo. É a apreensão pela velhice que carcome a mãe, e que guarda sua vez, já que beira os 30 anos. É o desassossego de chegar à terceira década sem ter amor, uma vez que acredita na família como unidade básica, mesmo que não demonstre diante de Vitória, mesmo que não fale à Itálio ou Glória, a quem admira e adora pelo passado conjunto de aventuras.

Mesmo que não aparente, há muito afligimento por detrás do riso fácil e das canções que ela mesmo inventa. Porque, passado o período de "luto" pela partida de seu namorico de adolescente, jurou que não se debateria de novo contra tais trevas, sendo a mais alegre de todos os Manarca, aos olhos de todos e genuinamente. E às costas desse contentamento esconde suas aflições, que farão dela, em algum momento, uma caminhante da Bazalta encharcada a lamentar seu destino azarado.

Tem guardada na memória como a pior de suas lembranças a partida de seu primeiro amor. Daquela vez, para aliviar-se de tão grande perda, encontrou na digestão seu refúgio, e por esse motivo ostenta desde então a cintura avantajada e as bochechas inchadas. Mas não perdeu os desejos florescidos daquele primeiro namoro, de casar-se na igreja com véu, formar família com filhos e viver pelo amor ao esposo. Porém, se achegam os 30 anos e não tem sequer namorado. Passa a nutrir uma paixão aberta ao professor Lúcio Flores, o que, primeiro, à dará esperança de vida, até tirar dela toda a razão. Tanto quanto Itálio, mesmo que de forma diferente, Carmem é o amor doentio. Vive para que seu sonho se faça real, vive pelo amor dos homens.

Carmem Manarca

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